INB pretende tornar Brasil exportador de urânio

Empresa quer atender demanda crescente pela descarbonização da economia  

A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) pretende captar R$ 80 bilhões nos próximos 15 anos com quatro projetos de extração mineral. O processo será coordenado pela superintendência de Novos Negócios e Minerais Estratégicos, em vias de ser criada, com o objetivo de oferecer alternativas de receita para além do fornecimento de elemento combustível às usinas da Eletronuclear (Angra 1 e Angra 2). Hoje, 95% do faturamento anual da empresa, de R$ 1,5 bilhão por ano, vem justamente da Eletronuclear. INB e Eletronuclear são controladas da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar).

De acordo com o presidente da INB, Adauto Seixas, até o final de abril serão oferecidas ao mercado quatro novos negócios. O primeiro será a Oferta Pública da Unidade em Descomissionamento de Buena, em São Francisco de Itabapoana (RJ), com o objetivo de conceder por 30 anos a unidade que atuava na comercialização de minerais como ilmenita, zirconita, rutilo e monazita. A INB também fará sua primeira Proposta de Manifestação de Interesse (PMI) da Mina de Figueira, no Paraná, onde existem reservas de carvão, molibdênio e urânio.

A terceira proposta é a PMI da Mina de Rio Cristalino, no Pará, onde há urânio de alto valor agregado. Para finalizar a primeira etapa do planejamento da nova Superintendência, a INB lançará o edital para venda de Torta II, o resíduo da extração de areia monazítica, que possui minerais agregados, disse Seixas, durante participação no evento Nuclear Summit 2024, promovido pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), no último dia 8, no Rio de Janeiro.

A criação da nova Superintendência está alinhada ao planejamento estratégico da ENBPar, estatal responsável pelo setor nuclear vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), que busca firmar o Brasil como ator importante do setor no mercado internacional. A ideia é atender à crescente demanda internacional diante da decisão anunciada por 22 dos mais influentes países do mundo, na COP 28, em 2023, de triplicar a oferta de energia nuclear até 2050 como parte do processo de descarbonização da economia.

O projeto da mina de Santa Quitéria, no Ceará – parceria da INB com a Galvani, produtora de fertilizantes fosfatados – pretende explorar o urânio e o fosfato, encontrados de forma associada. As reservas estimadas de fosfato são de 8,9 milhões de toneladas e as de urânio, de 80 mil toneladas. A expectativa é de que a licença do Ibama saia em dezembro e a produção se inicie em 2028. “A previsão é que sejam produzidas anualmente pelo Consórcio Santa Quitéria 1,050 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados e 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio”, disse.

A INB responde por seis das sete etapas da produção de combustível nuclear. Com a exploração da mina de Santa Quitéria, a INB espera atingir a autossuficiência para atendimento ao mercado interno, mesmo com a entrada em operação de Angra 3. O cálculo de Seixas é que as três usinas da Eletronuclear consumam entre 850 e 900 toneladas/ano, o que permitiria o Brasil tornar-se exportador de urânio.

Hoje a produção brasileira do minério está restrita à jazida de Caetité, na Bahia, com capacidade nominal de 400 toneladas/ano, mas que, na prática, tem produzido muito menos e esteve praticamente parada nos últimos cinco anos por problemas diversos. Embora o Brasil não faça pesquisa geológica para detectar novas jazidas de urânio há cerca de 40 anos, o país tem uma das dez maiores reservas do mineral no mundo.